Uma revolução silenciosa está a formar-se na Commonwealth. Não vem de Wall Street nem do distrito financeiro de Londres – está a surgir entre os vendedores de rua de Nairobi, os efervescentes polos tecnológicos de Lagos e as ilhas remotas das Bahamas.
Estas nações estão a reescrever as regras das finanças, não ajustando sistemas antigos, mas ousando construir novos desde a base. Aqui, a FinTech não é uma tendência; é uma tábua de salvação, um catalisador para quebrar as correntes da exclusão económica.
Da crise ao catalisador: A verdadeira história por detrás da ascensão da FinTech
A crise financeira de 2008 foi um ponto de rutura. A banca tradicional falhou a milhões de pessoas, expondo falhas que os inovadores da FinTech foram rápidos a colmatar. Mas foi necessária uma pandemia global para acelerar esta mudança. Enquanto grande parte do mundo desenvolvido lutava para se adaptar, o Quénia e a Nigéria prosperavam, apoiando-se em plataformas de dinheiro móvel como o M-Pesa para manter as economias a funcionar.
As Bahamas não ficaram apenas a assistir – fizeram história com o Sand Dollar, a primeira Moeda Digital de Banco Central do mundo. Estes avanços não foram incrementais; foram revolucionários.
O M-Pesa do Quénia não se limitou a transferir dinheiro; transferiu esperança, tirando quase 200.000 famílias da pobreza. O Sand Dollar não foi uma mera experiência digital – foi uma solução para milhares de pessoas excluídas da banca tradicional. Isto não é tecnologia por conveniência; é tecnologia para a sobrevivência.
Infraestrutura Digital Pública: O herói esquecido do crescimento Fintech
A Infraestrutura Digital Pública (IDP) tornou-se o alicerce da inovação FinTech nas nações da Commonwealth. Vai além do acesso à internet de banda larga ou dos identificadores digitais – é a estrutura invisível que sustenta economias inteiras. O sistema Aadhaar da Índia e a Interface Unificada de Pagamentos (UPI) são exemplos perfeitos.
Estas plataformas democratizaram o acesso financeiro, permitindo a milhões de pessoas transacionar, poupar e investir com uma facilidade sem precedentes.
Nas minhas conversas com reguladores e líderes locais da FinTech, testemunho constantemente uma profunda confiança no poder transformador da IDP. Os olhos brilham quando falam sobre como as estruturas digitais estão a remodelar as sociedades.
Desde agricultores rurais que acedem a microcréditos através de aplicações móveis até mulheres empreendedoras que expandem os seus negócios online, o impacto é palpável. Isto não é teoria – está a acontecer no terreno, e a acelerar.
Alimentando o motor FinTech: Porque está a Commonwealth a vencer
Porque é que as nações da Commonwealth estão a dominar esta revolução FinTech?
1. Coragem regulatória, não apenas adaptabilidade
Enquanto os reguladores ocidentais debatiam políticas, a Nigéria agiu. O Banco Central permitiu que FinTechs não bancárias entrassem no setor, desbloqueando o acesso para milhões de cidadãos sem conta bancária.
A “sandbox” regulatória de Singapura tornou-se um campo de testes para a inovação, empurrando limites sem comprometer a confiança.
2. Um afluente de investimentos
O capital está a fluir. África garantiu um financiamento recorde de 4,5 mil milhões de dólares para FinTechs em 2023, um salto face aos 3,1 mil milhões de 2022. Isto não é caridade – é reconhecimento. Gigantes globais como Stripe e PayPal estão a disputar espaço em África, enquanto campeões locais como Flutterwave e Chipper Cash expandem-se para além das fronteiras. Os investidores veem África como a próxima Índia, a próxima Ásia – um manancial inexplorado de inovação e crescimento.
3. Infraestrutura construída para a inclusão
O sistema Aadhaar da Índia e a UPI não se limitaram a digitalizar as finanças, democratizaram-nas. A rede 4G do Ruanda não se limitou a ligar pessoas, capacitou-as. Nestes países, a infraestrutura digital não é uma comodidade – é um instrumento para fechar a lacuna do acesso.
4. Uma potência demográfica
A juventude africana não é apenas consumidora – é criadora. Mais de 60% da população tem menos de 25 anos. Esta é uma geração que não quer balcões bancários; quer serviços bancários no telemóvel. Startups como Paga na Nigéria e Jumo na África do Sul compreendem isto e estão a conceber soluções direcionadas para este público tecnologicamente fluente.
Para além dos números: Histórias de impacto e transformação
O TymeBank na África do Sul não é apenas mais um banco digital. Está a integrar milhares de clientes diariamente, oferecendo acesso a pessoas ignoradas pela banca tradicional. Os bancos de serviços de pagamento na Nigéria estão a impulsionar pequenos negócios, transformando atividades secundárias em empresas. A parceria da Flutterwave com a Microsoft? Mais do que um negócio – é um modelo para a escalabilidade da economia digital africana.
No Gana, a Zeepay está a transformar a forma como as comunidades rurais recebem remessas, reduzindo custos e garantindo que o dinheiro chega às famílias mais rapidamente. Na Índia, os depósitos salariais móveis não são apenas transações – estão a desbloquear a independência financeira das mulheres, remodelando dinâmicas sociais e a participação económica.
As implicações globais: FinTech e desenvolvimento sustentável
A FinTech não é apenas um disruptor – é um construtor. Está a impulsionar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU:
- Erradicação da Pobreza (ODS 1): Serviços financeiros móveis proporcionam acesso a crédito e poupança essenciais.
- Energia Acessível e Limpa (ODS 7): A Sun Exchange da África do Sul transforma cidadãos comuns em investidores de energia limpa.
- Ação Climática (ODS 13): A blockchain está a tornar o comércio de carbono transparente e acessível, democratizando a sustentabilidade.
O lado negro da inovação: Gerir os riscos
Mas não devemos romantizar. A FinTech traz riscos – cibercrime, uso indevido de dados e a exclusão dos menos alfabetizados digitalmente. A regulação deve ser ousada, mas equilibrada. “Sandboxes” e quadros regulatórios transfronteiriços precisam de evoluir. Não podemos permitir inovação que deixe os vulneráveis para trás.
Traçando o futuro: O impulso imparável da Commonwealth
Para manter este ímpeto, as nações da Commonwealth devem:
- Expandir a conectividade digital – a inclusão rural não é opcional, é essencial.
- Cultivar a literacia financeira – capacitar as pessoas para usarem estas ferramentas com sabedoria.
- Forjar alianças mais fortes – as parcerias público-privadas devem liderar o progresso.
- Unificar mercados – as soluções financeiras transfronteiriças precisam de ser fluidas.
Este é o Momento. O mundo está a observar.
A FinTech na Commonwealth não é apenas sobre aplicações e algoritmos – é sobre reescrever o destino económico. O antigo manual financeiro nunca foi escrito para nós. Por isso, estamos a redigir um novo – que prioriza o acesso, a resiliência e a prosperidade partilhada.
Isto não é apenas o futuro das finanças – é o futuro da equidade. E a Commonwealth está pronta para liderá-lo.
A questão não é se esta revolução vai continuar – é até onde estamos dispostos a levá-la.
Vamos levá-la até ao fim.
Disclaimer: Este artigo é uma tradução autorizada do original intitulado “FinTech Disruption: Commonwealth Nations Are Shaping the Future of Finance” escrito por Ritesh Jain e publicado originalmente no site Finextra. A tradução foi realizada pela equipa do FintechAO, que assume total responsabilidade por eventuais imprecisões na adaptação para o português.
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Ritesh Jain
Dr. Ritesh Jain é um empreendedor e líder global em tecnologia, com mais de 20 anos de experiência em transformação digital, fintech e inclusão financeira. Atuou em empresas como HSBC, VISA e Maersk, sendo também mentor, investidor e palestrante sobre inovação e tecnologias emergentes.