Watu sofre quebra de lucros com aumento de incumprimentos
A fintech queniana Watu, especializada no modelo BNPL (compre agora, pague depois), registou uma quebra significativa nos lucros. Em 2024, os lucros caíram 85%, passando de 7,6 milhões de dólares em 2023 para 1,2 milhões de dólares (cerca de 157 milhões de xelins quenianos), segundo a Car & General, empresa cotada na Bolsa de Nairobi que detém 29% de participação na Watu.
Aposta em mercados informais agrava risco
A startup opera essencialmente nos mercados do Quénia, Uganda e Serra Leoa, onde oferece financiamento a operadores informais de transporte, como os condutores de mototáxis (boda boda). Esta estratégia permitiu-lhe escalar rapidamente, mas tornou o modelo vulnerável a choques de rendimento, oscilações cambiais e concorrência intensa.
Concorrentes como M-KOPA, Aspira e Ampersand também disputam o segmento, agravando a pressão sobre a fintech. A falta de acesso ao crédito tradicional nos seus mercados de atuação levou a Watu a preencher essa lacuna — mas com riscos elevados.
Modelos diversificados, lucros desiguais
A Watu tem cinco linhas principais de crédito, com destaque para a unidade Watu Boda, que financia motas e triciclos. Além disso, oferece:
- Empréstimos para telemóveis (Watu Simu)
- Financiamento automóvel (Watu Gari)
- Empréstimos escolares (Watu Shule)
- Crédito para veículos eléctricos, uma aposta recente
Contudo, nem todos os mercados seguiram a mesma tendência. Na Tanzânia, onde a fintech atua através da subsidiária Watu Tuu Limited, os lucros aumentaram 93%, atingindo os 5 milhões de dólares. Isto demonstra que o ambiente de crédito na região continua a ser volátil e fortemente dependente do contexto económico local.
Pressões económicas desafiam modelo BNPL
A Watu está entre várias instituições não bancárias que cresceram no setor de microcrédito com garantia de ativos na África Oriental. No entanto, com o aumento das taxas de juro e a pressão sobre os rendimentos informais, surgem dúvidas quanto à sustentabilidade do modelo.
A Car & General, beneficiária direta da procura por motas financiadas pela Watu, tem refletido os resultados da fintech nos seus próprios relatórios financeiros. Já a Watu, sendo uma empresa privada, não publica contas financeiras próprias.
Fundada em 2015 por Andris Kaneps, cidadão da Letónia, a fintech angariou mais de 20 milhões de dólares em cinco rondas de investimento. As mais recentes foram lideradas por FMO, Gateway Partners, Verdant Capital e AHL Venture Partners. Em fevereiro de 2024, fechou uma ronda Série B.
Mesmo com os lucros em queda, a Watu permanece como uma das poucas fintechs quenianas com histórico de rentabilidade.
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