Adoção de e-KYC avança lentamente em África
A digitalização dos serviços financeiros em África enfrenta entraves estruturais. De acordo com o relatório Africa’s Cross-Border Payment Landscape, publicado em maio de 2025, apenas 55% dos países africanos aceitam procedimentos de KYC eletrónico (e-KYC).
Este dado revela uma das principais barreiras à inovação no setor de pagamentos transfronteiriços. Em mercados onde o e-KYC ainda não é aceito, instituições precisam realizar múltiplos processos de verificação manual. Isso gera atrasos, aumenta custos e reduz o alcance de soluções fintech.
O que é o e-KYC e por que importa?
O Know Your Customer (KYC) é o processo de verificação de identidade exigido para abertura de contas ou envio de fundos. A versão eletrónica, o e-KYC, permite que essa validação ocorra de forma digital, sem papelada ou visitas presenciais.
Nos países que adotaram o e-KYC, os usuários conseguem aceder a serviços financeiros em poucos minutos, diretamente do telemóvel. Fintechs podem escalar com mais rapidez. Já nos outros, há exigência de documentos físicos, o que afasta milhões da economia digital.
Impacto direto na inclusão financeira
A limitação da aceitação do e-KYC afeta sobretudo zonas rurais e populações sem acesso fácil a instituições bancárias. Mesmo quem possui um telemóvel com acesso à internet encontra dificuldades em completar o registo em apps de pagamento ou enviar remessas digitais.
Segundo o relatório, essa fragmentação regulatória é uma das razões pelas quais as remessas na África continuam caras e ineficientes, com taxas que chegam a 8,3% em algumas regiões.
Consequências para fintechs e investidores
A ausência de padronização no e-KYC gera custos extras para fintechs que operam em múltiplos países. Cada jurisdição requer adaptações, aumentando os riscos regulatórios e a complexidade das operações. Para os investidores, isso representa um obstáculo à escalabilidade.
Além disso, o relatório destaca que regulações inconsistentes sobre KYC e câmbio cambial, como as da Nigéria, elevam a incerteza e os custos de cada transação. Empresas precisam recorrer a soluções offshore, resultando em perdas de até US$ 5 mil milhões anuais devido à falta de liquidez e conversões cambiais duplicadas.
Caminhos recomendados
O relatório recomenda a criação de um quadro regulatório pan-africano para e-KYC. Com essa harmonização, o continente poderá destravar bilhões em capital preso, fomentar a inovação e facilitar a integração de sistemas de pagamento como o PAPSS (Pan-African Payment and Settlement System).
Fintechs também devem investir em tecnologias seguras de verificação digital, enquanto os reguladores precisam acelerar a aceitação do e-KYC para fortalecer a inclusão financeira.
Fonte: Relatório “Africa’s Cross-Border Payment Landscape”, Oui Capital, Maio 2025
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