As fintechs já têm o talento, a engenhosidade e, após uma década de sucesso desafiante com inovações como as contas sem fronteiras da Wise, o checkout com um clique da Stripe e as carteiras multimoeda da Revolut – a credibilidade para remodelar as finanças num palco global. Esses avanços deram aos consumidores pagamentos mais rápidos e interfaces mais elegantes; mas vamos chamar a isso o Ato I.
O Ato II está a desenrolar-se agora: o próprio dinheiro está a tornar-se programável, modular e sem fronteiras. As stablecoins podem ser liquidadas em segundos, os contratos inteligentes podem executar lógica “se… então…” sem intervenção humana, e os ativos tokenizados podem circular 24/7 entre jurisdições. As infraestruturas que estamos a construir hoje — sejam elas abertas, interoperáveis e seguras ou fragmentadas e proprietárias — determinarão não apenas a rapidez com que o valor circulará amanhã, mas também quão equitativamente será distribuído e quem poderá participar na próxima vaga de inovação financeira.
O desafio para os criadores de hoje é claro: se a tua visão se limita a acelerar pagamentos locais ou a tornar a divisão de despesas mais apelativa, estás a perder de vista o verdadeiro prémio. O dinheiro programável reescreve as regras para remessas, do comércio, da tesouraria e até de transações entre máquinas. Estamos a construir para esse horizonte — ou a resolver os problemas de amanhã com a tecnologia de ontem?
Qual é o grande trunfo da blockchain?
Nos bastidores, a infraestrutura blockchain está a tornar-se a camada padrão para transferência de valor segura, em tempo real e sem necessidade de permissões. A plataforma Onyx do J.P. Morgan, por exemplo, já liquidou mais de mil milhões de dólares em pagamentos interbancários tokenizados em redes com permissão, ou seja, redes privadas onde apenas entidades autorizadas podem participar.
Se estás a projetar para os próximos cinco anos, as infraestruturas “on-chain” oferecem liquidação instantânea, lógica incorporada e integração global que os sistemas legados simplesmente não conseguem igualar. Não, não substituirá todos os sistemas, mas está a tornar-se rapidamente a base preferida para tudo o que exige rapidez, transparência e interoperabilidade. Não se trata de surfar a onda cripto, mas de reconhecer uma forma mais inteligente de mover valor – uma que seja auditável, modular e cada vez mais flexível.
Se estás a projetar para os próximos cinco anos, construir com blockchain dá-te acesso a velocidade, programabilidade e efeitos de rede que simplesmente não existem na arquitetura tradicional. Precisamos de mudar a nossa mentalidade de “Para que serve a blockchain?” para “O que já está a funcionar e como se encaixa na minha arquitetura?”.
Poderão as stablecoins ser o novo combustível por trás de uma economia impulsionada por IA?
Na conferência Sessions 2025 da Stripe, o co-fundador Patrick Collison não poupou nas palavras: “Não há uma, mas duas, correntes de vento de força furacão… a remodelar a paisagem económica à nossa volta: Inteligência Artificial (IA) e Stablecoins.” Num mundo cada vez mais gerido por IA’s, as stablecoins programáveis são a moeda natural e poderão tornar-se o combustível financeiro por trás de uma economia impulsionada por IA.
A Stripe acaba de lançar contas financeiras para empresas, em 101 países, suportadas por stablecoins que permitem às empresas manter, receber e enviar stablecoins e, crucialmente, protegerem-se contra a inflação e ligarem-se diretamente à economia global. Tudo isto sem necessidade de uma conta bancária tradicional. E não é só a Stripe — a Worldpay, a Mastercard, a X (antigo Twitter) e até a Apple estão a explorar formas de impulsionar os seus negócios com stablecoins.
Isto não é teoria; isto é infraestrutura — e empreendedores em países com alta inflação podem agora operar em USD digitais estáveis. Além disso, as startups podem pagar colaboradores com stablecoins, evitar taxas de transferências bancárias e mover capital em minutos através de transações internacionais de baixo custo.
As stablecoins passaram silenciosamente das margens para se tornarem o método preferido para pagar colaboradores globais (instantaneamente, sem taxas de câmbio), comércio transfronteiriço (liquidando pagamentos em USD em meros segundos), aceder a poupanças (mesmo em regiões propensas à inflação) e ligar-se a protocolos de tesouraria e empréstimos “on-chain” (sem necessidade de uma conta bancária).
Por isso, se estás a desenvolver uma plataforma de pagamentos, este é o momento de te perguntares: o meu produto consegue evoluir com a forma como as finanças digitais estão realmente a ser usadas? Se a resposta for não — talvez valha a pena reconsiderar a tua arquitetura, porque o que funciona aqui, deve escalar para lá.
Isso soa a “dinheiro, mas mais rápido”. O que é mais interessante?
Pensa nos contratos inteligentes como lógica “se…, então…” para o dinheiro — basicamente, código que executa ações financeiras automaticamente quando certas condições são cumpridas. Sem intermediários, sem atrasos, sem trabalho manual. É aqui onde o dinheiro deixa de, apenas, se mover e começa a agir.
Imagine que o pagamento aos prestadores de serviços ocorria no momento em que o trabalho fosse verificado; se os reembolsos fossem acionados instantaneamente quando as mercadorias não chegassem; se o comércio internacional funcionasse com regras integradas no teu código, e não nos teus papéis.
Isto já está a acontecer globalmente — finanças programáveis significam stablecoins que se integram em fluxos de trabalho automatizados e APIs que reagem a eventos do mundo real. A questão já não é “conseguimos mover o dinheiro mais depressa?”, mas sim “o nosso dinheiro consegue mover-se de forma mais inteligente?”
Qual é o próximo passo?
O que separa as boas empresas das verdadeiramente revolucionárias é a visão. Os vencedores na fintech serão os que projetarem para o que aí vem, não apenas para o que existe agora.
Se acreditas que o dinheiro será programável…
Se vês que o comércio global exige verdadeiras infraestruturas globais…
Se sabes que as regras da infraestrutura estão a ser reescritas em tempo real…
… então este é o momento para redobrar o compromisso. Constrói com stablecoins. Liga-te a infraestruturas “on-chain”. Cria APIs prontas para blockchain. Está na hora de pensar como a internet: sem fronteiras, aberta e ultrarrápida.
Não nos limitemos ao presente financeiro; vamos moldar o futuro.
Disclaimer: Este artigo é uma tradução autorizada do original intitulado “Stablecoins, smart contracts and the rise of more intelligent cash” escrito por Paul Quickenden e publicado originalmente no site Finextra. A tradução foi realizada pela equipa do FintechAO, que assume total responsabilidade por eventuais imprecisões na adaptação para o português.
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Paul Quickenden
Paul Quickenden é Chief Commercial Officer da Easy Crypto e membro do Conselho Executivo da Blockchain New Zealand. Com mais de 15 anos de experiência, é especialista em fintech, criptoativos, Web3 e expansão estratégica de produtos digitais.