Arlinda Peixoto, a visionária por trás do Pagali, está na vanguarda da redefinição do futuro das fintechs em África. Com mais de duas décadas de expertise em tecnologia e finanças, ela revela, em entrevista exclusiva ao FintechAO, os segredos do sucesso do Pagali, as estratégias para superar desafios no setor financeiro e os planos ambiciosos que prometem transformar o ecossistema digital em Cabo Verde e além. Uma conversa imperdível sobre inovação, inclusão financeira e liderança disruptiva. Acompanhe a entrevista completa.
LIDERANÇA E INOVAÇÃO: A JORNADA DO PAGALI
Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e fintechs, como surgiu a ideia de fundar o Pagali? Quais foram os principais desafios enfrentados nos primeiros anos da empresa?
Tudo começou como administradora de sistemas na Electra (empresa de eletricidade), depois na Impar (companhia de seguros) e, em seguida, na SISP (sociedade interbancária). Em todas essas empresas, adquiri experiências valiosas, habilidades técnicas e conhecimento de negócios sobre eletricidade, abastecimento de água, seguros, pagamentos e sistema financeiro. Trabalhando de perto com bancos, identifiquei lacunas no setor de serviços financeiros. Essa perceção, aliada ao meu background técnico, me inspirou a criar o Pagali para suprir essas necessidades. Ao reconhecer as falhas do mercado e o potencial de transformação digital em Cabo Verde, decidi aproveitar o meu conhecimento e experiência para criar o Pagali. O objetivo era fornecer serviços financeiros inovadores, eficientes e acessíveis à população cabo-verdiana, reduzindo a distância entre o sistema bancário tradicional e a tecnologia financeira. Na época, não se falava em fintechs, mas sim em pagamentos online aqui em Cabo Verde.
O Pagali nasceu das experiências adquiridas nestes setores, e da necessidade que vi no mercado de oferecer soluções financeiras acessíveis e eficientes. O maior desafio inicial foi a resistência à inovação no setor financeiro, além das barreiras regulatórias e a necessidade de educar os consumidores sobre as vantagens das soluções digitais. E também de conseguir investidores que conseguissem entender o negócio que seria o Pagali. Superamos esses desafios investindo em parcerias estratégicas e na construção de uma plataforma segura e intuitiva.
Enquanto CEO e líder em transformação digital, que princípios ou valores norteiam as suas decisões estratégicas e a cultura organizacional do Pagali?
Os valores que norteiam o Pagali são: inovação, inclusão e transparência. Acreditamos que a tecnologia deve ser utilizada para democratizar o acesso aos serviços financeiros e criar impacto real na vida das pessoas. A cultura organizacional é pautada na colaboração, na agilidade e no compromisso com a excelência, garantindo que estejamos sempre à frente das mudanças do setor.
O Pagali tem um papel relevante na democratização do acesso a serviços financeiros digitais. Como é que a empresa está a romper barreiras em mercados emergentes?
Tentamos romper barreiras oferecendo soluções financeiras acessíveis, seguras e intuitivas. Estamos a implementar tecnologias como inteligência artificial e machine learning para oferecer serviços personalizados e garantir maior inclusão financeira. Além disso, parcerias estratégicas com bancos e instituições locais ajudam a criar um ecossistema digital robusto e confiável.
Para quem está a iniciar neste setor, quais são os erros mais comuns a evitar e que práticas são essenciais para o sucesso?
Os erros mais comuns no setor Fintech incluem a falta de foco no utilizador, o sub-dimensionamento dos desafios regulatórios e a ausência de um modelo de negócios sustentável. Para evitar esses problemas, é essencial compreender a jornada do cliente, investir em conformidade regulatória desde o início e construir uma equipa forte e multidisciplinar.
TECNOLOGIA E FUTURO: IA, BLOCKCHAIN E OPEN BANKING
Como é que a Inteligência Artificial (IA) pode redefinir os modelos de negócio das Fintechs na próxima década? Que oportunidades específicas vislumbra?
Tenho feito um investimento pessoal em formação e especialização em IA para que possamos inovar e estar a frente com a implementação das tecnologias emergentes.
A IA está a transformar as Fintechs ao permitir automação de processos, análise preditiva e personalização dos serviços financeiros. No futuro, veremos modelos cada vez mais avançados de IA sendo utilizados para deteção de fraudes, crédito baseado em comportamento e interfaces conversacionais mais inteligentes.
Estamos convictos que pode trazer muitas oportunidades para o Pagali, incorporando a IA no seu “core” impactando o modelo de negócio, trazendo assim mais eficiência, segurança e transparência.
Com a sua experiência em tecnologias descentralizadas, como avalia o potencial do blockchain e dos NFTs para modernizar o setor financeiro africano?
O blockchain tem um grande potencial na modernização do setor financeiro africano, especialmente na criação de sistemas de pagamento mais transparentes e acessíveis. Já os NFTs podem ser explorados na tokenização de ativos e no desenvolvimento de soluções inovadoras para propriedade digital, inclusão financeira e investimentos. Podendo assim captar investimentos de outros mercados para produtos locais.
O crescimento do Open Banking está a criar novas oportunidades globais. Como é que as Fintechs locais podem aproveitar esta tendência para se integrarem no ecossistema financeiro internacional?
Primeiro, terá de se ter a garantia da regulação, o que ainda é um desafio nos nossos países, para que possamos localmente poder entregar serviços mais disruptivos e globais.
Mas é um fato que as Fintechs locais podem tirar proveito do Open Banking ao se integrarem a ecossistemas financeiros internacionais, ampliando a sua oferta de serviços e tornando os pagamentos mais acessíveis. Para isso, é fundamental investir em interoperabilidade e conformidade com padrões globais de segurança e privacidade.
ÁFRICA, CPLP E O ECOSSISTEMA FINTECH GLOBAL
Como avalia o estágio atual de maturidade das Fintechs em Cabo Verde e nos demais países da CPLP? Há espaço para parcerias estratégicas entre estes mercados?
O ecossistema Fintech nos países lusófonos ainda está em fase de crescimento, mas há um enorme potencial para colaboração e inovação. O intercâmbio de conhecimento e a criação de parcerias estratégicas entre esses mercados podem acelerar a adoção de novas tecnologias e fortalecer o setor como um todo.
Também a possibilidade de criar legislação padrão para os países da CPLP, poderia ser um grande impulsionador na expansão das Fintechs.
Enquanto ex-embaixadora do programa Cabo Verde Digital, quais são os próximos passos necessários para que startups e fintechs ganhem escala na região?
Apesar de já não ser embaixadora do CV Digital, acompanho sempre as atividades e as iniciativas que se têm vindo a desenvolver no âmbito do CV Digital.
O crescimento das startups e Fintechs na região depende de um ambiente regulatório favorável, investimentos em infraestrutura digital e acesso a financiamento. Programas de aceleração e incentivos fiscais também são fundamentais para que essas empresas consigam escalar seus negócios.
Uma maior cooperação com a diplomacia, para que as empresas possam exportar os seus serviços é necessária de forma mais eficaz.
Qual é o papel das stablecoins e das CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) no fortalecimento das economias africanas e da CPLP?
Ainda assistimos algum ceticismo de alguns países no que se refere às moedas digitais, mas muitas iniciativas estão a ser levadas a cabo em alguns países africanos, inclusive em Cabo Verde, já se discute a moeda digital cabo-verdiana.
As stablecoins e as CBDCs podem desempenhar um papel crucial na inclusão financeira, na redução dos custos de transação e na estabilidade econômica. Em países com alta volatilidade cambial, essas tecnologias podem oferecer alternativas mais confiáveis para pagamentos e transferências internacionais.
O ecossistema fintech africano tem condições para rivalizar com polos consolidados, como a Europa e a Ásia? Que fatores são decisivos para este salto?
O ecossistema Fintech africano tem potencial para competir globalmente, mas para isso precisa investir em inovação, infraestrutura digital e regulação eficiente. O grande diferencial da África é a capacidade de desenvolver soluções altamente escaláveis para resolver desafios reais de inclusão financeira e mobilidade de pagamentos. África tem um excelente historial no que se refere a digitalização financeira, mobile money e sistemas de pagamentos, então, o caminho já foi traçado. Agora temos de olhar para o panorama global e adaptar a nossa legislação e regulação.
VISÃO DE FUTURO E PRÓXIMOS PASSOS
Que novidades ou projetos estratégicos está o Pagali a preparar para os próximos anos? Há alguma iniciativa inovadora que possa adiantar aos nossos leitores?
Inicialmente, o Pagali tinha o objetivo de simplificar pagamentos digitais para os cabo-verdianos. À medida que crescemos, ampliamos a nossa visão para criar um ecossistema financeiro completo, abordando diversas necessidades além dos pagamentos.
Nosso foco era usar a tecnologia para fornecer serviços financeiros acessíveis, econômicos e fáceis de usar, aproximando a população não bancarizada ao sistema financeiro. Começamos pelo essencial: pagamentos digitais acessíveis via smartphones.
Com o tempo, percebemos que, para realmente empoderar nossos utilizadores, precisaríamos oferecer mais do que pagamentos básicos. Queremos expandir os nossos serviços para incluir remessas, microcréditos, planos de poupança e oportunidades de investimento, adaptados às necessidades de indivíduos e pequenos negócios em Cabo Verde e além.
Além disso, estamos fortalecendo a educação financeira, ajudando os nossos utilizadores a tomar decisões mais informadas. Por meio de parcerias com instituições locais e internacionais, expandimos nosso alcance e impacto, garantindo que o Pagali permaneça na vanguarda da inovação financeira em África.
Nosso compromisso com a inovação e a experiência do utilizador nos impulsionou a evoluir constantemente.
O Pagali está a preparar várias iniciativas inovadoras, incluindo novas integrações de IA para personalização de serviços, expansão para novos mercados e parcerias estratégicas com instituições financeiras e startups. Estamos focados em oferecer soluções cada vez mais acessíveis e eficientes para impulsionar a transformação digital no setor financeiro.
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