Bruxelas prepara um plano de inteligência artificial (IA) para competir diretamente com os EUA e a China, numa tentativa de reduzir a dependência tecnológica externa. O novo programa, chamado “Apply AI Strategy”, visa reforçar a soberania digital europeia e acelerar a adoção de soluções locais.
Segundo o rascunho a que o Financial Times, a estratégia pretende apoiar o uso de IA em áreas-chave como saúde, defesa e indústria. O objetivo é posicionar a União Europeia não apenas como utilizadora, mas como criadora de tecnologia com peso global.
Estratégia foca-se na competitividade industrial
A Comissão Europeia quer que a IA seja encarada como um ativo estratégico. Para isso, vai investir 1 mil milhão de euros de programas já existentes, com foco em segurança, resiliência e competitividade industrial.
Entre as medidas destacam-se incentivos para adoção de soluções generativas europeias em administrações públicas, ajudando também start-ups a crescerem com software de código aberto produzido na região.
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Riscos de dependência tecnológica
O rascunho alerta para as “dependências externas da pilha de IA”, que incluem software e hardware necessários para treinar e gerir aplicações. De acordo com o documento, estas dependências “podem ser armadas” por estados ou atores privados, colocando em risco cadeias de abastecimento críticas.
A preocupação aumentou após o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA, o que intensificou receios sobre a segurança digital europeia e a necessidade de independência tecnológica. Ao mesmo tempo, a China disputa a liderança global em IA, reforçando a urgência de ação por parte da Europa.
Defesa entre as prioridades
A estratégia também prevê acelerar o desenvolvimento de capacidades de comando e controlo (C2) baseadas em IA para uso militar. Estes sistemas, hoje fornecidos em larga escala pelos EUA através da NATO, são considerados críticos para operações no terreno.
Bruxelas quer ainda investir em modelos de IA soberanos para defesa espacial, acompanhando o aumento dos orçamentos militares europeus em resposta à ameaça da Rússia.
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Empresas emergentes no ecossistema europeu
Apesar da dependência externa, a Europa já é casa de empresas promissoras como a Mistral, em França, e a Helsing, na Alemanha. O plano da Comissão procura criar condições para que estas empresas cresçam e disputem o mercado com gigantes americanos e chineses.