Neste artigo de opinião Brian Mahlangu debruça-se sobre o estado atual da adoção do mobile no continente africano, abordando o processo em si, as infraestruturas, acessibilidade e desafios. Uma boa leitura leitura para si!
Não se trata de opiniões, apenas fatos!
Não se pode ignorar que 40% dos africanos vivem abaixo da linha de pobreza (lutando para custear necessidades básicas como alimentação, habitação e saúde). Para contextualizar, isso significa que 438,6 milhões de africanos, de uma população total de 1,54 bilhão no continente, são afetados.
Com isso em mente, é crucial lembrar que África é o continente mais jovem do mundo, com 70% de sua população abaixo dos 30 anos e 60% abaixo dos 25. Em números absolutos, aproximadamente 1,078 bilhão de pessoas em África têm menos de 30 anos.
Destaco isso para contextualizar nosso cenário atual e ajudar a compreender melhor o ecossistema móvel em África.
A adoção de telemóveis em África é “única”, moldada por restrições de custo, lacunas de infraestrutura e o predomínio do mobile money.
Em 2023, África tem aproximadamente 615 milhões de assinantes de telemóvel (GSMA, 2023), representando 46% da população. A África Subsaariana responde por aproximadamente 515 milhões, e o Norte da África por aproximadamente 100 milhões.
Inacreditável: 54% dos africanos não têm telemóvel! Metade do continente!!
Em 2025, 56% das conexões em África virão de telefones analógicos – um reflexo claro da pobreza em escala! Talvez por custo, mas os números não mentem!
Compare com outros continentes: uso de telefones analógicos – América do Norte (5%), Europa (10%), Ásia (30%), América do Sul (30%).
Pessoal: “Temos um longo caminho pela frente”.
Os números pioram com a adoção de smartphones!
Relatórios recentes (GSMA, Statista) indicam 400–460 milhões de usuários de smartphones em África em 2023.
A adoção de smartphones está crescendo rapidamente, mas fica abaixo da média global devido a:
- Custo (preço médio do dispositivo: US$ 100–150).
- Cobertura irregular de 4G/5G fora das cidades.
- Telefones analógicos ainda dominam áreas rurais (ex.: 40% dos usuários).
Para contexto, aproximadamente 45 à 55% dos africanos possuem qualquer tipo de telemóvel, e metade desses usa smartphones. Essa lacuna evidencia a divisão digital no continente.
No que devemos nos concentrar
1. Priorize “Mobile-First” (mas nem sempre “Smartphone-First”)
Telefones analógicos ainda importam: Com 56% das conexões vindas deles, soluções leves como interfaces USSD/SMS e serviços por voz são essenciais.
Exemplo: O M-Pesa da Safaricom cresceu inicialmente via USSD antes de lançar um app.
Otimize para smartphones de baixo custo: A maioria tem dispositivos abaixo de US$ 100, com armazenamento e dados limitados. Mantenha apps abaixo de 10MB e reduza consumo de dados.
2. Acessibilidade Impulsiona a Adoção
Usuários sensíveis a custos: Com 40% na pobreza, modelos como preços escalonados, freemium e “pague conforme o uso” são vitais.
Associe serviços a dados: Parcerias com operadoras (MTN, Airtel) para subsidiar dados (ex.: Facebook Flex, Wikipedia Zero) removem barreiras.
3. Mobile Money é Não Negociável
Integre pagamentos por mobile money: Com 70% dos adultos no Quênia e Tanzânia usando carteiras móveis, conexões com M-Pesa, MTN MoMo e Airtel Money são críticas.
Casos transfronteiriços: O mercado de remessas de mais de US$ 100 bilhões em África abre oportunidades (ex.: transferências P2P da Chipper Cash).
4. Localização é crítica – Repito: Localização é crítica
Diversidade linguística: Suporte a línguas como suahili, hauçá e iorubá melhora engajamento.
Contexto cultural: Design para uso offline, baixa alfabetização (UX com ícones) e dispositivos compartilhados (perfis multiusuário).
Exemplo: YouTube Go permitiu downloads offline na Nigéria.
5. Solucione Lacunas de Infraestrutura
Funcionalidade offline: Modos offline, cache e atualizações por SMS garantem uso em áreas com rede instável.
Otimização de bateria: Como 43% dos africanos não têm eletricidade confiável, evite processos em segundo plano.
6. Parcerias para Escalonar
Colabore com operadoras: Use redes de distribuição para aquisição de usuários (ex.: parceria da Vodacom com o VodaPay da Alibaba).
Parceiros locais: Agentes de mobile money, agro-revendedores ou farmácias para alcance em áreas remotas.
7. Aborde Falhas de Alfabetização Digital
Onboarding simplificado: Use tutoriais em vídeo, instruções por voz ou embaixadores comunitários.
Alavance redes sociais: WhatsApp domina (85% de penetração na Nigéria). Chatbots e suporte comunitário aumentam engajamento.
8. Foque em Casos de Uso Hiperlocais
Agricultura: Sensores IoT para pequenos agricultores (ex.: Twiga Foods no Quênia).
Saúde: Apps de telemedicina como Rocket Health (Uganda) permitem consultas remotas.
Educação: Apps como uLesson (Nigéria) auxiliam na preparação para exames.
9. Prepare-se para Complexidade Regulatória
Regras variáveis: Regulações de mobile money diferem entre países (ex.: KYC rigoroso na Nigéria vs. flexibilidade no Quênia).
Privacidade de dados: Alinhe-se a leis como a Lei de Proteção de Dados do Gana ou a NDPR da Nigéria.
10. Invista em Confiança a Longo Prazo
Construa confiança: Preocupações com fraudes exigem selos de verificação, preços transparentes e suporte local.
Crescimento comunitário: Utilize indicações boca a boca e influenciadores locais (ex.: agricultores promovendo ferramentas AgriTech).
Minha Contribuição
O sucesso exige empatia com restrições de custo, realidades de infraestrutura e diversidade cultural. Os próximos bilhões de usuários não se adaptarão ao seu produto – você deve se adaptar a eles.
Disclaimer: Este artigo é uma tradução autorizada do original intitulado “The State of Mobile Adoption in Africa – What should be focused on!!!” escrito por Brian Mahlangu e publicado originalmente no site Finextra. A tradução foi realizada pela equipa do FintechAO, que assume total responsabilidade por eventuais imprecisões na adaptação para o português.
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Brian Mahlangu
Brian Mahlangu é VP de Produto no Absa Group (CIB), com mais de uma década em fintech. Co-fundador da Eggly, une inovação e metodologias práticas. Autor de Ground Up e The Hustlers Chronicle, inspira empreendedores. Premiado no Standard Bank Rising Star 2016, é palestrante e especialista em Gestão de Produtos e Agile.