Hoje vamos analisar o relatório African Digital Banking Transformation Report 2024, ou abreviadamente ADBT 2024.
Trata-se de um relatório publicado pela equipe editorial da revista African Banker, em parceria com a Backbase, que nos oferece um olhar abrangente sobre a forma como a digitalização está a moldar o sector financeiro no continente africano. Baseado numa pesquisa que envolveu 155 bancos em 35 países, o relatório explora as tendências emergentes, os desafios estruturais e as oportunidades de inclusão financeira que estão a redefinir este mercado em rápida evolução.
Num continente onde 90% das transações ainda são realizadas em dinheiro e cerca de metade da população permanece fora do sistema bancário, o relatório destaca a digitalização como uma ferramenta poderosa para superar barreiras e promover a inovação.
Principais destaques do ADBT 2024
1. Adoção Acelerada da Digitalização
A pandemia de Covid-19 impulsionou significativamente os planos de digitalização dos bancos africanos:
- 69% dos bancos aceleraram as suas iniciativas digitais.
- Contudo, apenas 20-30% da população utiliza serviços bancários digitais, evidenciando um vasto potencial inexplorado.
Reflexão: Este dado sublinha a necessidade urgente de ampliar o acesso digital, especialmente em zonas rurais e populações mais vulneráveis.
2. Mobile Banking como Pilar Central
O continente africano caracteriza-se como um ambiente “mobile-first”, com 75% do tráfego online vindo de dispositivos móveis.
- Exemplos de sucesso, como o KCB no Quénia, mostram que até 99% das transações já são realizadas através de plataformas móveis.
Destaque: O mobile banking não é apenas uma tendência, mas a principal via para expandir os serviços financeiros no continente. O investimento em aplicações leves e acessíveis será crucial.
3. Inclusão Financeira e Acessibilidade
Apesar dos avanços, cerca de 90% das transações financeiras continuam a ser feitas em dinheiro.
- As mulheres representam 60% da população desbancarizada, destacando a necessidade de iniciativas inclusivas e sensíveis às questões de género.
Destaque: Soluções digitais devem ir além da tecnologia e abordar as barreiras culturais e económicas que mantêm estas populações fora do sistema financeiro formal.
4. Parcerias Estratégicas com Fintechs
Os bancos têm colaborado com fintechs e empresas de telecomunicações para atingir populações desbancarizadas.
- Casos como o M-Pesa da Safaricom e o Orange Bank Africa mostram como essas parcerias estão a transformar o acesso financeiro em áreas rurais.
Reflexão: A integração de fintechs no ecossistema bancário tradicional é essencial para criar soluções ágeis e escaláveis.
5. Desafios com Sistemas Legados
93% dos bancos identificaram sistemas legados como um obstáculo à inovação.
- A modernização tecnológica é vista como uma prioridade urgente para competir num mercado digital.
Insight: Modernizar não significa apenas substituir sistemas antigos, mas construir infraestruturas que sejam escaláveis e adaptáveis às novas tecnologias.
Tendências regionais no sector bancário africano
África Oriental: Líder em Inovação Mobile
- Bancos como o KCB lideram com empréstimos digitais e plataformas para PMEs.
- A região destaca-se pelo uso inovador de mobile money para inclusão financeira.
África Ocidental e Central: Potencial Não Explorado
- Apenas 27% dos bancos completaram mais de 75% das suas operações digitalmente.
- Infraestruturas limitadas continuam a ser um desafio, mas o potencial de expansão digital é significativo.
África Austral: Investimentos Robustos
- Bancos sul-africanos lideram em maturidade digital, com investimentos anuais superiores a US$ 3 milhões.
- Abordagens híbridas (internas + especialistas externos) são amplamente utilizadas para desenvolver plataformas digitais.
África do Norte: Foco em Big Data
- A região aposta em big data para personalização de serviços e gestão de riscos.
- Plataformas omnichannel são prioritárias para melhorar a experiência do cliente.
Tendências tecnológicas emergentes
- Inteligência Artificial (IA):
- Aplicações incluem análise preditiva, chatbots multilíngues e recomendações personalizadas.
- Computação em Nuvem:
- Escalabilidade e eficiência operacional tornam-se acessíveis sem custos físicos elevados.
- Cibersegurança:
- Autenticação biométrica e medidas avançadas são essenciais para proteger dados financeiros.
- Pagamentos Digitais:
- Iniciativas como o Pan-African Payment and Settlement System (PAPSS) facilitam transações transfronteiriças.
Oportunidades e desafios
Oportunidades:
- Inclusão Financeira: Quase metade da população sem acesso bancário representa um mercado inexplorado.
- Colaboração com Fintechs: Parcerias estratégicas podem acelerar o desenvolvimento e o alcance de soluções.
Desafios:
- Educação Digital: Muitos clientes desconhecem ou não confiam nos serviços digitais.
- Custos Iniciais: Bancos precisam equilibrar investimentos elevados com os benefícios a longo prazo.
Relevância do relatório ADBT 2024
O ADBT 2024 não apenas analisa os avanços tecnológicos no setor bancário africano, mas também explora como esses avanços podem ser usados para resolver desafios sociais e econômicos únicos do continente. Ele fornece insights valiosos para bancos, fintechs e reguladores que buscam transformar o acesso financeiro em uma região onde a inclusão ainda é um desafio significativo. O ADBT 2024 também destaca as diferenças regionais na adoção digital, com algumas áreas (como África Oriental) liderando em inovação, enquanto outras (como África Ocidental) ainda enfrentam barreiras significativas. Além disso, ele apresenta casos práticos e estratégias que podem ser replicadas para acelerar a transformação digital em mercados emergentes. Esta prévia destaca apenas uma fração das descobertas do relatório ADBT 2024. Ele será uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada em entender como a tecnologia está moldando o futuro dos serviços financeiros em África.
O relatório ADBT 2024 evidencia que o continente está numa encruzilhada crítica. Bancos e fintechs que investirem em tecnologia inovadora, parcerias estratégicas e inclusão financeira terão uma posição privilegiada para liderar esta revolução. Este relatório destaca igualmente que a transformação digital bancária em África não é apenas uma oportunidade económica, mas também uma necessidade social.
À medida que os custos de smartphones caem e a penetração da internet aumenta, espera-se que mais africanos façam a transição do dinheiro físico para soluções digitais. Bancos que investirem em parcerias estratégicas, tecnologias emergentes e inclusão financeira estarão melhor posicionados para liderar essa revolução.
Enquanto os desafios permanecem, o potencial de transformação é inegável. O futuro do sector financeiro africano será definido por quem conseguir equilibrar tecnologia, acessibilidade e impacto social.