Durante a CES 2025, realizada em Las Vegas na quarta-feira (8 de janeiro), o cientista-chefe de inteligência artificial da Meta, Yann LeCun, expressou ceticismo em relação às definições predominantes de Inteligência Artificial Geral (AGI)e às promessas de que essa tecnologia esteja próxima. LeCun, vencedor do Prêmio Turing, criticou diretamente declarações recentes de Sam Altman, CEO da OpenAI, que afirmou que sua equipe já sabe como construir AGI e está focada na superinteligência.
LeCun argumentou que os modelos de linguagem de grande escala (LLMs), como o ChatGPT, não são suficientes para alcançar AGI. Ele prefere o termo “inteligência ao nível humano” e destacou que os LLMs atuais, baseados em texto, não possuem as capacidades multimodais necessárias para raciocinar ou compreender o mundo físico.“Não há absolutamente nenhuma hipótese de que os LLMs auto-regressivos, do tipo que conhecemos hoje, alcancem a inteligência humana”, afirmou LeCun. “Simplesmente não vai acontecer.”
As Limitações dos Modelos de Linguagem
LeCun explicou que os LLMs funcionam analisando possibilidades textuais para prever a próxima palavra ou frase. No entanto, ele enfatizou que o cérebro humano é muito mais complexo, integrando informações sensoriais e físicas. Além disso, os sistemas atuais são exemplos de IA estreita, projetados para tarefas específicas — como jogar xadrez ou realizar diagnósticos médicos — e falham ao sair desse escopo. “Montar vários sistemas especializados não significa criar inteligência ao nível humano”, disse LeCun.
Ele também destacou que tarefas físicas complexas, como canalizações ou manipulação de objetos no mundo real, ainda estão fora do alcance da IA atual. “Estamos longe até mesmo de igualar a compreensão do mundo físico de um gato ou cão.”
O Fim da Escala?
LeCun também questionou a abordagem atual de ampliar a escala dos modelos com mais dados e maior poder computacional. Segundo ele, essa estratégia está atingindo um ponto de retorno decrescente e é economicamente insustentável. Ele mencionou que a OpenAI ainda não lucra com o ChatGPT Pro, mesmo cobrando 200 dólares por mês.
O Futuro: Modelos de Mundo Generativos
Apesar das críticas aos LLMs e à AGI, LeCun vê potencial nos modelos de mundo generativos, que criam ambientes virtuais para treinar robôs e sistemas físicos de IA. Ele acredita que essa abordagem pode acelerar o desenvolvimento da robótica nos próximos três a cinco anos.

Empresas como Nvidia já estão investindo nessa área. Durante a CES 2025, Jensen Huang, CEO da Nvidia, apresentou a plataforma Cosmos, projetada para criar mundos virtuais foto-realistas que permitem treinar robôs e veículos autônomos com dados sintéticos. Além disso, gigantes como Google DeepMind e startups como World Labs estão explorando modelos generativos para robótica.
IA no Trabalho: Agentes Específicos vs. Inteligência Artificial Geral
Para LeCun, alcançar uma inteligência ao nível humano exigirá avanços significativos em áreas como percepção sensorial e aprendizado multimodal. Ele concluiu dizendo que ainda estamos longe desse objetivo e que as promessas exageradas podem gerar expectativas irreais sobre o futuro da IA.
Sobre a CES 2025
A CES 2025 (Consumer Electronics Show) é a maior feira de tecnologia do mundo, realizada anualmente em Las Vegas, Estados Unidos. A edição deste ano acontece entre os dias 7 e 10 de janeiro, reunindo mais de 4.000 empresas expositoras e cerca de 135.000 participantes de mais de 150 países. O evento é conhecido por apresentar inovações tecnológicas que moldam o futuro da indústria e do consumo.
Desde sua criação em 1967, a CES tem sido o palco para lançamentos revolucionários no setor tecnológico. Este ano, a feira reforça seu papel como vitrine global de inovação, atraindo executivos, startups e líderes governamentais interessados em explorar as tendências que transformarão o cotidiano nos próximos anos.